Curso quadrimestral? Isso existe?

No último post, sobre a nova lei de estágios, eu falei que depois explicaria sobre a exceção da lei para cursos que alternem aulas teóricas e práticas, pois acredito que poucos devam ter entendido… Pois bem a hora chegou!

Primeiramente, eu já sou uma pessoa estranha por fazer engenharia e gostar disso! Eu sou mais estranha ainda por fazer engenharia de computação e acreditar que isso serve para alguma coisa, principalmente que pode mudar a vida das pessoas para melhor! Podem me chamar de nerd se quiserem, eu não ligo… Mas o mais estranho mesmo é que eu faço o famoso curso cooperativo de engenharia da computação na Poli-USP. Tá bom, nem tão famoso assim… O desconhecido curso cooperativo! Sou uma pessoa sem vida social e sem férias e que apesar de tudo acha que vale a pena! (?)

Deixando de lado as brincadeiras, estou agora no quarto ano de engenharia da computação e realmente existe este curso cooperativo. Mas afinal de contas o que é um curso cooperativo?

A idéia de curso cooperativo é a de haver uma cooperação entre empresa e instituição de ensino para a formação dos estudantes. O curso cooperativo na Poli-USP também é conhecido como curso quadrimestral. Pois bem, um curso quadrimestral é diferente de um curso semestral que é o que normalmente vemos nas instituições de ensino. Como o próprio nome diz é um curso que possui periodicidade de 4 meses ao invés dos 6 meses. Apesar de muitos acharem que o curso é invenção brasileira, fivco triste em desapontá-los e dizer que este tipo de curso existe em outros países como o Canadá.

O curso quadrimestral foi instituído em 1989 e apesar de todo esse tempo de existência ainda continua desconhecido no Brasil. A idéia inicial desse curso era ser oferecido em um campus da USP que deveria existir em Cubatão e a parceria deveria ocorrer com as indústrias da cidade. Abortados os planos do campus em Cubatão, o curso que já estava planejado e com professores contratados foi ser oferecido no campus da capital. Atualmente, nessa modalidade de curso temos a engenharia química e a engenharia da computação, mas nos primórdios também existiu o curso cooperativo de engenharia de produção.

Vou explicar melhor agora o formato do curso. Os cursos de engenharia tipicamente possuem 5 anos e os dois primeiros anos são considerados básicos (o que na USP chamamos de Biênio). A partir do terceiro ano em tese acontece a especialização em alguma das áreas da engenharia e uma destas é a engenharia de computação. O primeiro e segundo anos são “normais”, ou seja, possuem periodicidade semestral, com férias em julho e no começo do ano. Nos cursos cooperativos (ou quadrimestrais), a periodicidade se altera a partir do terceiro ano. Nos últimos três anos de faculdade, os alunos passam a ter seu ano dividido em três períodos de quatro meses (três quadrimestres) e os períodos de aula se alternam com os períodos de estágio. E antes que alguém pergunte: sim, não há férias!

Engenharia de Computação
1º quadrimestre 2º quadrimestre 3º quadrimestre
3º ano Módulo de Aula Módulo de Estágio Módulo de Aula
4º ano Módulo de Estágio Módulo de Aula Módulo de Estágio
5º ano Módulo de Aula Módulo de Estágio Módulo de Aula

Engenharia Química
1º quadrimestre 2º quadrimestre 3º quadrimestre
3º ano Módulo de Aula Módulo de Aula Módulo de Estágio
4º ano Módulo de Aula Módulo de Estágio Módulo de Aula
5º ano Módulo de Estágio Módulo de Aula Módulo de Estágio

Nas tabelas acima podemos ver que os cursos cooperativos têm cinco períodos de aula e quatro de estágio e que os cursos de engenharia de computação e de engenharia química possuem diferentes configurações: enquanto a computação alterna sempre os módulos, a química no terceiro ano possui dois módulos seguidos de aula, para só depois começar a alternar.

Muita gente deve estar se perguntando qual é mágica para caber tudo em quatro meses de aula e ainda mais em apenas cinco de períodos de aula ao invés dos 6 períodos semestrais dos cursos tradicionais. Primeiramente, pense o período de férias que o curso semestral possui no ano (meses de julho, dezembro, janeiro e fevereiro), com isso podemos ver que na verdade os semestres nada mais são que quadrimestres de aula (março a junho e agosto a novembro). Vemos que o curso semestral já é quadrimestral, o que prova que é possível dar as matérias em quatro meses (elas já são dadas assim em todos os cursos!). E por mais contrária que seja a nossa percepção, o curso cooperativo acaba tendo mais dias letivos por período de aula do que os cursos semestrais (não vou me lembrar exatamente mas é algo do tipo de duas semanas a mais). Isso porque não possui as três semanas de provas em que não há aulas e nem semana do saco cheio…

Mas ainda assim não é possível explicar como colocar todas as matérias necessárias em cinco períodos de aula ao invés de seis! Mais um truque: os cursos semestrais vão aliviando a carga horária conforme a pessoa vai chegando no fim do curso, porém no curso quadrimestral a carga se mantem constante até o fim do curso. Dá para comparar bem no caso da engenharia de computação, pois esta possui tanto uma turma semestral quanto uma turma quadrimestral: vemos que a diferença de créditos de uma para a outra é de apenas 12 créditos a mais para a engenharia da computação semestral (créditos esses que se devem ao fato de na verdade eles serem chamados de engenheiros elétricos com ênfase em computação, ou seja, possui mais matérias de eletricidade por causa disso, enquanto os do curso cooperativo são apenas engenheiros de computação).

Nos cursos quadrimestrais, os estágios devem ser feitos apenas nos períodos de estágio, ou seja, estes períodos não tem aulas e são para dedicação exclusiva à atividade de estágio curricular. Nos períodos de aula, as aulas voltam a ser em período integral como os demais cursos de engenharia, devendo o aluno se dedicar apenas à vida acadêmica.

Uma vantagem dessa modalidade de curso é que ao separarem os períodos de estágio e de aulas, eliminam-se os conflitos de prioridades entre a dedicação ao ensino e à prática na profissão que comumente ocorrem quando os alunos precisam estagiar e estudar no curso de engenharia, sendo muitas vezes difícil esta conciliação.

Finalizando o meu texto, justifico a exceção na nova lei de estágios: como este curso possui épocas específicas em que o estudante estará voltado apenas para o estágio, vemos que a limitação de tempo não é necessária, já que o formato do curso já foi pensado na tentativa de resolver o problema da dedicação do estudante ao estágio e ao estudo.

Bom, é isso! Outro dia eu faço um texto mais crítico a cerca deste modelo de curso, já que o faço e tenho algumas coisas interessantes para expôr…

4 thoughts on “Curso quadrimestral? Isso existe?

  1. Eu realmente não sabia que existia esse tipo de curso.
    Mas acho que não teria coragem de fazê-lo =P
    É nerdice demais, mesmo para mim xD
    Boa sorte!

  2. nathy, adorei seu texto.. tenho uma duvida, a opção pelo curso semestral ou quadrimestral foi feita no vestibular ou foi durante o curso? abraços

  3. Então, mas no curso quadrimestral você tem todas as matérias igual ao semestral? ou eles cortam materia para colocar no lugar do estagio? tipo, uma coisa anula a outra? vou prestar eng quimica =)

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