Política não se discute? Não é bem assim!

Dizem que há três assuntos que não se discute: religião, política e futebol. Eu acredito que não há assunto em que não se possa falar; qualquer opinião é válida sobre qualquer assunto, ainda que não se chegue a uma opinião concordante.
Por isso, hoje eu resolvi tentar escrever sobre o assunto que acredito ser o mais polêmico entre os três: a política. Só tentar porque eu lá não sou a melhor comentarista do assunto e não me acho extremamente versada em política. Esse assunto é muito polêmico em nosso país, há muitos embates, muitos pontos de vista e muitos achismos e mitos. Não acho que nos outros países democráticos seja lá tão diferente, a população com certeza deve ter seus embates e seus problemas.
Uma das piores posturas que vejo nos brasileiros é de achar errado “fazer política” ou errado ter uma visão política. Só para citar um exemplo grotesco é ver que a pessoa coloca nas redes sociais que é “apolítico”, que é “contra a política” ou que não tem nenhum “inclinação” política. Isso logicamente é mentira, pois o ser humano é um ser político. Se assim não fosse não viveria em sociedade. A política faz parte da vida humana, e o ser humano está fazendo política a todo instante em que se relaciona sem nem ao menos perceber.
Sabe aquele seu vizinho chato que você aguenta falar sobre histórias pouco interessantes? O ato de você “aguentá-lo” é um ato político. E como qualquer ato tem intenções por trás, que podem ser legítimas (você ter dó da pessoa, por exemplo), ou não (você se aproveitar para conseguir alguma informação privilegiada que ela tenha acesso, por exemplo). Esse jogo de intenções é a própria política.
Outro comentário que eu vejo já se disseminando em classes econômicas mais elevadas é a de que vivemos no Brasil uma “crise de representatividade”, pois os políticos que estão no poder não representam a população brasileira. O primeiro ponto que gostaria de ressaltar que para haver uma crise, há um pressuposto de que houve alguma “época de ouro” da representatividade e da política no Brasil para a qual queremos retornar. Afinal, isso acontece em tempos de crise como, por exemplo, em uma crise financeira, em que há queda da bolsa de valores e o país deseja sair da crise, retornando a um “status” similar ou melhor ao que se tinha antes da crise.
Vamos lá procurar então essa época de ouro na história brasileira. Atualmente, temos Dilma como presidente do país, eleita democraticamente pela população. Antes dela, tivemos dois governos Lula, dois do FHC, meio do Itamar Franco e meio do Collor; todos eleitos de forma democrática. Antes deles, tivemos a Ditadura Militar, em que a representatividade era mínima. Ainda voltando mais podemos nos lembrar de Getúlio Vargas ou até mesmo da “política do café-com-leite”, em que poucos tinham direito a voto e havia um revezamento de poder entre São Paulo e Minas Gerais.
Na minha visão, a “época de ouro” da representatividade não deve estar antes do Collor, pois nem tínhamos uma democracia antes dele e nem havíamos tido representatividade significativa anteriormente nas poucas épocas em que houve democracia no país antes da Ditadura Militar. Fazendo um recorte da história a partir do início da década de 1990, podemos notar que o país tem vivido de fato uma democracia representativa, com um grande número de votantes, não só os mais ricos e alfabetizados. Isso tudo tem apenas 24 anos, o que significa muito pouco em termos políticos e para o país. Pense em quanto tempo outros países já vivem em democracia. Estamos engatinhando, aprendendo a votar, aprendendo a pensar criticamente, iniciando a ter nossas opiniões e a poder expressá-las. Não há crise da representatividade, há sim uma crescente democratização e aumento da representatividade. Não acredito que um país se torne uma democracia plena de um dia para o outro; isso é um processo, pois é preciso mudar a mentalidade da sociedade, acostumada a viver em outros tempos e mudar a cultura de poder voltada aos interesses dos mais abastados.
Ou seja, vemos um cenário de conflito de interesses entre as elites que dominavam o país politicamente e que assim querem se manter com novas elites que surgiram (como uma “elite de pensadores”), e com uma população tentando achar seu espaço, pois sempre aprendeu que política não era assunto para pobres mortais. É o contrário de crise que vemos aqui, é o florescimento de uma democracia e a busca por uma maior representatividade, que não será dada e sim conquistada.
Há outras temas polêmicos dentro dessa temática que decidi não abordar nesse texto. Mas fica aqui minha reflexão de que não adianta achar a política uma “coisa suja” e que tudo está perdido em nosso país. Quando os brasileiros aceitarem seu papel na política e deixarem de se taxarem como apolíticos, e aceitarem que 24 anos é pouco para revolucionar toda uma cultura política construída, haverá uma maior chance de que a representatividade da nossa democracia seja muito mais florescente.

2 thoughts on “Política não se discute? Não é bem assim!

  1. Eleitos e governando democraticamente, desde que mandamos fora o Collor voltou o revezamento de poder entre S Paulo e Minas Gerais.

    Melhor continuar assim. Cariocas e gaúchos quando chegam ao poder é via ditadura.

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