Mães, pais, filhos e… feminismo

Há um tempo atrás estava acompanhando uma discussão sobre a possibilidade de mulheres com filhos poderem ou não levá-los a um curso ou evento em que desejam participar. E isso deu origem a uma reflexão que gostaria aqui de compartilhar com vocês.
Só para melhor entendimento do contexto, o evento em que houve esse debate foi a RodAda Hacker, que é uma oficina de programação para mulheres. A ideia é promover a autonomia e inclusão de mulheres nas áreas relacionadas à programação. Algumas mulheres que iriam participar desse oficina de um dia eram mães e colocam em questão a possibilidade de levar seus filhos para deixá-los em um espaço a parte.
A discussão gerada se polarizou basicamente em dois extremos: mulheres totalmente contra e outras a favor. O principal argumento usado para as que eram contrária a ideia de crianças no local foi que quem não tem com quem deixar os filhos nem deveria se propor a participar de uma oficina como aquela, pois o ambiente não é adequado à crianças e elas atrapalhariam o aprendizado das demais mulheres. Outro argumento usado foi o de que “se fosse um grupo de homens a presença de filhos nem seria discutida”. 
Nesse ponto, eu parei e pensei “Mas porque não seria discutido?”. E na atual realidade do mundo sei que o que ela disse não era mentira. Dificilmente, homens cogitariam a hipótese de discutir sobre a presença de filhos em um curso ou evento que participariam, o que eu acho uma pena, porque os homens também poderiam (e deveriam) discutir sobre essas questões, de como farão para fazer um curso e cuidar dos filhos. Mas realmente está tão enraizado na nossa sociedade que é obrigação da mulher cuidar e se preocupar com os filhos que nem se pensa nisso. Um pai vai fazer um curso já é aceitável e automático que a mãe deve ficar com os filhos (muitas vezes, o pai já “avisa” que terá que ir a um evento sem nem mesmo consultar a opinião da mãe). Mas quando é o oposto, isso provoca muito debate, pois não parece natural que os pais cuidem dos filhos enquanto as mães tem que fazer um curso ou qualquer outra coisa. Incluindo que alguma parte se deve às próprias mães que não “permitem” que os pais assumam a sua função de pais por não o acharem capazes. Há casos, logicamente, em que os pais realmente nem querem assumir essa responsabilidade. 
Outro ponto que me fez parar para pensar foi o do “ambiente não é adequado à crianças”. Muita gente ainda possui a visão de que somos pessoas “separadas”, uma coisa é o profissional e outra o pessoal; esse ponto mostra muito bem isso. Mas, (in)felizmente, somos um só; uma “parte” influencia na outra, nem tem como… Uma mãe ou um pai, mesmo estando em seu horário de trabalho, vai continuar se preocupando com seus filhos. E em casa, a pessoa também não se desligará por completo do que é profissional. É natural e acho que o limite entre esses espaços estão cada dia mais difusos e a transição e a “mistura” deveriam ser encaradas como naturais. Porque não levar seus filhos ao trabalho em necessidade ou em qualquer lugar? Não prego aqui a “bagunça”, mas sim o bom senso. Lógico que criança não é um “mini-adulto” e não tem a mesma paciência de ficar parada sem fazer nada, mas com bom senso acho sim que pode ser saudável essa mistura. 
Meses depois dessa discussão, estava ajudando em um evento e a discussão me voltou a mente, mas agora com um exemplo concreto. Uma bolsista do Fórum da Internet precisou levar o filho, que tinha cerca de 8 meses, para o evento e, ao tentar entrar, foi barrada, pois não eram permitidas crianças no recinto do evento. Motivo alegado: o evento é responsável por todos que estão no local. A situação ficou um pouco chata, pois a bolsista havia recebido a passagem da organização (sendo que inclusive a passagem do bebê havia sido dada pela organização também) e era de outro estado. No fim, “abriu-se uma exceção” para que ela participasse do evento com a criança. Um ponto para se pensar: “Porque exceção?”. Será que não é o caso de que esses casos não sejam mais vistos como exceção? Afinal de contas, uma parte natural da vida é a reprodução, não é? A maioria de nós terá filhos algum dia, então, como isso ainda pode ser encarado como exceção? Como propor soluções para uma melhor “mistura” entre a pessoa “profissional” e a pessoa “pessoal”?
Acho que todas essas reflexões ainda passam pela visão de gênero que temos na nossa sociedade. As mulheres devem cuidar dos filhos prioritariamente e os homens tem, no máximo, que ajudar. Se os pais ajudarem já está de bom tamanho, não é mesmo? Ai que a visão está errada sob o meu ponto de vista. A responsabilidade deve ser compartilhada e não uma responsabilidade da mulher que, se tiver sorte, contará com uma “ajuda” do homem que participou tanto quanto ela do ato que originou aquele ser, que doou exatamente a mesma quantidade de genes que ela. Acho que não é preciso lembrar aos pais que seus filhos carregam metade dos seus genes e só metade dos das mães, né? Então, porque a mãe tem que ter 90% da responsabilidade e o pai só os 10% restante (“ajuda”)?
Enfim, esse texto propõe a reflexão de uma nova sociedade onde as pessoas consigam se ver como iguais em direitos e deveres. Também se propõe a pensar um pouco “fora da caixa”, para entender as estruturas atuais da sociedade e ver que muitas coisas já nem fazem sentido, mas continuam. Abro os comentários para o debate! 
P.S.: Se quiserem ler um texto com a opinião de um Homem sobre esse assunto, vejam no link:

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