Muitos dizem que as aparências não importam, que o que importa é como é você, a sua beleza interior. O físico deve estar em segundo plano. Talvez no mundo ideal essa seria a verdade, mas não é o que se vê na realidade. Em especial, a mulher sofre muito com o que se espera dela e das cobranças que sofre diariamente.
Eu não sou uma pessoa muito encanada com essas questões que envolvem “beleza” e coisas do gênero. Eu nem entendo nada para que serve cada cosmético e falando bem a verdade nem estou muito afim de aprender mesmo.
Algo que me irrita muito é você ter pessoas querendo impor regras de como você deve ser, fazer ou não, tentar te encaixar em um padrão no qual nem com todo o esforço do mundo você conseguirá pertencer. E pior: nem levam a sua opinião, seus valores em consideração ao fazer isso. Você pode simplesmente não querer fazer uma coisa, mas há toda uma pressão social para se fazer.
Por exemplo, meu cabelo não é liso, é ondulado. Sempre sofri com uma pressão das pessoas mais próximas a mim para “fazer algo a respeito”. São cobranças para fazer progressiva, fazer chapinha, passar quilos de produtos diferentes para “domar a juba”. E sinceramente eu já fiz muitas dessas coisas para tentar me encaixar no aceitável para a sociedade, para pararem de “buzinar na minha orelha”, não por minha vontade. Afinal, “o que vão pensar e falar de você”?
Acho que a última coisa que passa na cabeça de muitos é que a pessoa pode simplesmente viver muito bem com o cabelo desse jeito, que se ela não se incomoda com o jeito dele porque é que você tem que se incomodar e porque não consegue respeitar que a pessoa é desse jeito. Mas, não, as pessoas se importam sim com as aparências das outras, como se fosse uma afronta que ela mantenha o cabelo ao natural, enquanto você gasta horas e dinheiro que não tem para que não haja um fio fora do lugar. Ou simplesmente porque o bonito é ter cabelo liso.
Outro exemplo é a questão do peso. Sempre fui um pouco mais “gordinha” e aliás acho que quando estou com o tal “peso ideal” de acordo com o IMC eu fico magra demais, pois tenho quadris largos e fico me sentindo estranha. Mas a minha opinião sobre meu corpo não importa.
Na verdade, as pessoas sempre vem com aquele discurso da saúde, que ser gordo causa X problemas… Mentira! As pessoas estão pouco se lixando com a sua saúde, estão de olho na sua aparência mesmo. Eu já provei por A mais B que sou uma pessoa saudável, com uma saúde muito melhor do que pessoas com seu peso ideal. Tenho um colesterol excelente, glicemia idem, vitaminas e minerais em ordem, sem gordura no fígado e muitas coisas mais… Ou seja, saúde melhor do que muitos que me vêm com esse papinho. Aí, vão para a linha que eu sou jovem e que um dia tudo pode mudar. Como se só os “gordinhos” envelhecessem e tivessem problemas de saúde.
Às vezes, tenho impressão que as pessoas nasceram para “enfeitar” o mundo e não para existir. Mas, não enfeitar com sua diversidade e com sua individualidade. Enfeitar de uma forma padronizada: magras, altas, brancas, cabelos lisos e loiros, olhos claros, sempre maquiadas, depiladas perfeitamente, unhas feitas… Apesar de haver algumas pequenas concessões: de repente você não precisa ser tão alta, ou nem ter olhos claros, mas ainda “serve”.
Não estou aqui pregando que as mulheres e homens que queiram usar cosméticos, alisar cabelos, ficarem magros, esbeltos, musculosos, ou qualquer coisa que o valha que não podem e nem devem fazer. Devem fazer se se sentirem melhor desse jeito de verdade e não por uma imposição da sociedade. Estou agora sim pregando que as pessoas vejam na diversidade a verdadeira beleza que há. Mas principalmente que não queiram dizer que o “certo”, o “bonito” ou o “saudável” é o que se vê na TV, nas passarelas ou nas revistas.
Agora sem hipocrisias: a maioria das pessoas se importa com as aparências das outras. Mas o ponto é ter consciência disso e racionalizar um pouco as coisas. Relativizar as aparências, vendo o quão surreal pode ser o fato de existir um “padrão” e que existem outros pontos de vista possíveis bem fundamentados. Ver a beleza na diversidade. E o que o dia 20 de novembro seja realmente o dia de tomarmos consciência de outras belezas existentes, como a negra, totalmente relegada a segundo plano.