Com certeza, a crucificação de uma trans na Parada Gay já é um outro caso, pois foi feita como uma ação afirmativa do movimento, com o intuito de chamar a atenção à causa. E chamou. Alguns tentaram entender qual a mensagem que se queria passar com aquilo. Outros nem chegaram no racional e gritaram como infâmia a sua crença. A mensagem era bastante óbvia: os LGBTs são “crucificados” diariamente simplesmente por assim serem. São crucificados quando são julgados ou quando até sofrem violência física simplesmente por sua forma de viver.
Jesus Cristo, símbolo das vertentes religiosas cristãs, foi crucificado e todos sabemos. Mas ele foi uma das centenas ou milhares que assim morreram por não viveram de acordo com que o Império Romano achava certo. A cruz pode ser um símbolo de adoração para alguns com olhos crentes, que vão se lembrar dos sacrifícios de seu Mestre, enquanto para outros será apenas um instrumento de tortura e morte amplamente usado na história. Daí a dizer que profanaram ao próprio Cristo e às religiões cristãs há uma distância grande. Pode ter sido um “cutucão” proposital dos LGBTs nos cristãos mais fanáticos? Talvez tenha sido sim para gerar mais repercussão à mensagem que se desejava passar. Não só a tática teria dado certo como também exemplificou muito bem o porquê da mensagem ainda precisar ser passada: a intolerância às diferenças existe ainda muito entre as pessoas, inclusive entre as que se dizem espiritualizadas.
Infelizmente em todo esse debate houve muitas generalizações de todos os lados. Como já se sabe: toda a generalização é burra. Todos os cristãos concordam que a propaganda dO Boticário incentiva a homossexualidade? Não. Todos os cristãos se sentiram agredidos com uma representação de uma crucificação na Parada Gay? Não. A intenção de todos LGBTs era agredir a crença dos cristãos? Não. A intenção da marca foi “agredir” os heterossexuais ou influenciá-los a “virarem” homossexuais? Não. Nenhum grupo de pessoas é totalmente homogêneo. Há sempre muitas gradações dentro de uma mesmo grupo, quem achar que é tudo igual está sendo leviano. Normalmente, as generalizações levam a intolerância a níveis extremos e por isso há que se cuidar dessa certeza de que tudo é muito “preto no branco”.
Se tem uma coisa que merece ser crucificada, essa é a intolerância aos diferentes de nós, pois se há uma verdade é a de que todos estaremos errados em algum momento de nossas vidas, mas que temos o direito de não sermos julgados por isso.