O gênero feminino nos projetos de Engenharia e Exatas na FEBRACE

Entre os dias 18
e 20 de março de 2014 aconteceu a FEBRACE
12 – Feira Brasileira de Ciências e Engenharia. Essa feira ocorre anualmente
nas dependências da Escola Politécnica da USP e é considerada uma das maiores
feiras brasileiras para estudantes pré-universitários.
Na feira, os
projetos são avaliados por uma comissão julgadora composta por mestres e
doutores de diversas áreas do conhecimento. Os autores dos melhores trabalhos
ganham prêmios e nove projetos são selecionados para representar o Brasil na
Feira Internacional de Ciências e Engenharia da Intel (Intel ISEF), que
neste ano acontece em Los Angeles, California (EUA), de 11 a 16 de maio.
Para se ter uma
noção do tamanho da feira, este ano ela contou com 277 projetos e 641 alunos no
total. Só na área de engenharia haviam 159 estudantes apresentando 64 projetos e
na área de exatas um total de 129 alunos distribuídos em 56 projetos.
Quando se olha
para a distribuição por gênero nessas áreas específicas, é possível ver que em
engenharia havia 60 meninas, representando cerca de 38% do total de alunos
dessa área. Já na na área de exatas havia também 60 meninas, 46% do total de
estudantes. Agora quanto aos projetos, pode-se ver que na área de engenharia
havia 9 projetos com grupos compostos só por meninas e em exatas havia 21
projetos na mesma condição.
Com a ideia de
investigar os motivos que levam as mulheres a se afastar das carreiras nas
áreas de exatas e de engenharia, fui entrevistar algumas meninas que tinham
desenvolvido seus projetos nessas duas áreas.
As
estudantes Ludiemili (18 anos) e Marília
(17 anos) desenvolveram um aplicativo para sistema Android tradutor para Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS), chamado de AnLibras. O sistema reconhece o que é
dito pela pessoa e mostra um vídeo com a palavra em LIBRAS. O projeto recebeu
um prêmio de excelência em iniciação científica concedido pela Associação
Brasileira de Incentivo à Ciência – ABRIC na FEBRACE.
As alunas estão
no 4º ano do Ensino Médio Integrado ao Técnico de Informática no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), na cidade
de Charqueadas, no Rio Grande do Sul.
Durante o nosso
bate-papo, ambas disseram que querem fazer após o ensino médio o curso de
Ciência da Computação. Ainda relataram que há mais meninas em sua classe, pois
há apenas dois cursos técnicos na escola (o outro é de mecatrônica) e como as
meninas não querem fazer mecatrônica acabam optando em fazer informática.

As alunas
Alessandra (16 anos), Jaine (17 anos) e Ingrid (17 anos) do 3º ano do Ensino
Técnico em Eletrônica no ETE FMC, em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais,
construíram um robô interativo para crianças hospitalizadas. Com ele, as
crianças em idade de alfabetização podem aprender através de jogos e da
interação com o robô.
Em nossa
conversa, elas me falaram que na escola delas, o último ano, que é o que elas
estão, é uma especialização e cada uma está estudando uma área: Alessandra faz
telecomunicações, Jaine estuda Automação e Ingrid está em Biomédica.
Falando sobre o
futuro, todas me disseram que têm interesse em seguir na área da Engenharia,
sendo que a Alessandra pretende fazer Engenharia de telecomunicações, Jaine
quer fazer Engenharia de Automação e Ingrid quer Engenharia Biomédica.
Questionando
sobre o porquê de sua escolha pelo curso técnico de eletrônica, Alessandra e
Jaine decidiram fazê-lo, pois há poucas opções de escola em sua cidade. Já
Ingrid mora em uma cidade próxima e seu pai levou-a na
escola para conhecer os cursos. Ela se interessou e decidiu estudar lá.
Quando falamos
sobre a questão do gênero nas turmas, Alessandra relata que sua turma é
balanceada em termos de quantidade de meninos e meninas, cerca de 40% são
meninas. Já Jaine diz que há poucas meninas em sua turma (7 de 30 alunos no
total) e Ingrid relata que sua turma possui mais meninas que meninos (23 de 30
alunos).

A
estudante Daniella (15 anos) está no 2º ano do Ensino médio no Colégio Dante
Alighieri, em São Paulo e fez um estudo sobre uma forma alternativa de
iluminação para residências, usando raios solares.
Ela me contou
que participa em sua escola do grupo de ciências. Esse grupo é subdividido em
áreas, sendo que ela participa da área de engenharia, na qual é a única menina
dentre os 9 alunos.
Quanto ao
futuro, ela ainda está em dúvida em que carreira seguir, tendo como opções
Engenharia Civil, engenharia elétrica e Direito. Mas ela ainda é bem novinha e
tem tempo para decidir, né?

A
aluna Ana Maria (17 anos) está no 3º ano do Ensino Médio Integrado ao Técnico de
Informática no Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia da Paraíba,
em Campina Grande.
Seu projeto é um
aplicativo para Android usando lógica fuzzy para classificação do grau de
emergência médica de pacientes em pronto socorros. Com o seu projeto, ela
ganhou o prêmio Intel Excellence in Computer Science.
Em nossa
conversa, ela me relatou que em sua turma de técnico há apenas 3 meninas de um
total de 21 alunos. Ainda relata que se sente diferente das outras meninas por
ter esse interesse em computação.
Sobre o motivo
de sua escolha pelo curso técnico de informática, ela me disse que se interessa
muito pelas ciências exatas, tendo anteriormente já participado de olímpiadas
de matemática. Atualmente ela faz iniciação científica júnior no IFPB.
Após a conclusão
do ensino técnico, ela deseja cursar ciência da computação.

Lara
(18 anos) terminou no fim do ano de 2013 o curso técnico de Informática no Instituto
Federal de Mato Grosso do Sul, em Nova Andradina.
Seu projeto é um
teclado musical de baixo custo feito a partir de lixo eletrônico, em especial
de computadores. Com esse projeto ela recebeu os seguintes prêmios: Intel
Excellence in Computer Science, 3º Lugar em Ciências Exatas e da Terra da
FEBRACE e Investigação Científica e Sustentabilidade da 12ª Feira dos
municípios e 3ª Mostra de iniciação científica da Bahia – FEMMIC.
Durante o técnico
ela percebeu que havia poucas meninas e também poucas professoras no curso de
informática. Para ela, ser uma das poucas meninas no curso trouxe estímulo para
que ela se sobressaísse.
Antes de entrar
no curso técnico ela me conta que pensava em seguir carreira no Direito ou na Música,
mas mudou de ideia depois do curso. Atualmente, ela trabalha na prefeitura da
sua cidade no núcleo de Informática, sendo a única mulher da área. Também
iniciou a faculdade de sistemas de informação na Universidade Federal da Grande
Dourados.

Com essas conversas, pude perceber que todas as meninas estão motivadas em seguir nas áreas de engenharia e de exatas. Infelizmente não consegui responder minha pergunta inicial e entender o que leva as meninas a se afastarem dessas áreas. Mas continuo na busca da resposta e, principalmente, da solução.

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